50 anos da morte de Heitor dos Prazeres

Foto: arquivo familiar

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Replico aqui matéria que escrevi recentemente para o site do Ministério da Cultura sobre o cinquentenário da morte do pintor e sambista Heitor dos Prazeres

Marcelo Araújo

O sambista e pintor carioca Heitor dos Prazeres foi um dos servidores ilustres do Ministério da Educação e Cultura (MEC), entre os anos 30 e 50. Foi o poeta Carlos Drummond de Andrade, outro ex-funcionário célebre da pasta, quem trouxe o artista popular para o órgão público. No Palácio Gustavo Capanema, sede da Representação Regional do Ministério da Cultura (MinC), no Rio, há uma placa mencionando o fato de Heitor ter trabalhado no prédio. Nesta terça-feira (4), completam-se 50 anos da morte do cantor, compositor e instrumentista que tantas canções imortalizou. Vale lembrar que, em 2016, se comemora o Centenário do Samba, em referência à histórica gravação Pelo Telefone, de Donga, a primeira do gênero, realizada em 1916.

Heitor nasceu no dia 23 de setembro de 1898, na cidade do Rio de Janeiro, na rua Presidente Barroso, na Praça Onze. Seu pai, Eduardo Alexandre dos Prazeres, trabalhava como marceneiro e clarinetista da Guarda Nacional. Já a mãe, Celestina Gonçalves Martins, era costureira. Eduardo morreu quando o filho tinha apenas sete anos, mas não sem antes transmitir a Heitor o ofício da marcenaria e a paixão pela música. Mais tarde, enquanto trabalhava em profissões como marceneiro, engraxate, jornaleiro e lustrador de móveis, o garoto entrava pela porta da frente no mundo da música.

Tanto nas canções que compôs quanto nos quadros que pintou, Heitor dos Prazeres narrou com maestria a vida da gente do Rio de Janeiro. “A alegria e o sofrimento deste povo é que me obrigam a trabalhar”, disse o sambista, em referência ao seu processo criativo, no belíssimo documentário de 1965 que leva seu nome, dirigido por Antônio Carlos da Fontoura.

De cavaquinho ou clarinete na mão, participava de rodas em locais como a casa de Tia Ciata, considerada um dos berços do samba, onde convivia com mestres como João da Baiana, Donga, Pixinguinha e Caninha. Seu maior sucesso foi Pierrô Apaixonado, composto em parceria com Noel Rosa. Nos anos 20, ajudou a fundar a escola de samba Portela. Justamente com uma composição de Heitor dos Prazeres, Não Adianta Chorar, a Azul e Branco conquistou, em 1929, um concurso entre as agremiações.

As mais de 200 composições do autor carioca trataram de diversos temas, como desilusões amorosas, a vida agitada do carioca e a religiosidade dos terreiros, presente em sua vida desde os primórdios e uma influência decisiva. Nesse leque, estão Vou te Abandonar, Carioca Boêmio, Nada de Rock Rock (manifesto contra a chegada do rock’n’roll ao Brasil, na segunda metade dos anos 50), Quem é Filho de Umbanda, Canção do Jornaleiro, Mamãe Oxum, Vem de Aruanda e Tá Rezando.

Em 1931, o artista se casou com Glória, com quem teve três filhas. Infelizmente, o relacionamento durou pouco e terminou com a morte da esposa, em 1936. Para lutar contra a tristeza, descobriu a pintura e, um ano após o acontecimento, já começou a expor seu trabalho, que ganhou repercussão no país e até internacional. Autodidata, retratou em seus quadros a vida dos moradores das favelas, como brincadeiras de criança, festas juninas, jogos de baralho e rodas de samba, sempre com a indefectível marca dos personagens olhando para o alto.

Paradoxalmente, apesar do sucesso na pintura, Heitor dos Prazeres desabafava que não apreciava produzir em série, em caráter comercial. Admitiu isso no documentário de Antônio Carlos da Fontoura, ao falar que, muitas vezes, o artista, por necessidade, vivia acorrentado e não fazia o que queria.

Insatisfações pessoais à parte, seu talento o imortalizou, sendo reverenciado por personalidades como o ex-presidente Juscelino Kubitschek e os escritores Stanislaw Ponte Preta e Carlos Drummond de Andrade. O autor de Itabira lhe dedicou o poema A Heitor dos Prazeres Artista. Em uma das estrofes dessa emocionante homenagem, Drummond define Heitor: “Por tua pintura e música, passa um fluido de poesia. Poesia das coisas simples, unidas em melodia”.

 

Um pensamento sobre “50 anos da morte de Heitor dos Prazeres

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