O som do espaço

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Informo ao chefe dos engenheiros que existe um problema na parte leste da nossa estação espacial.

– Parece que está havendo superaquecimento dos propulsores. Pelo menos foi o que Rodney me informou – digo.

– Vou mandar uma equipe para verificar isso agora. Obrigado.

Deixo a sala do engenheiro-chefe e sigo para o extremo oposto da estação. No meio do caminho, cruzo com um ou outro técnico e um grupo de guardas. Atravesso o longo corredor que dá acesso à área especial 5, que também conhecemos como setor do conhecimento. Lá estão o centro de mídia, com toda informação que necessitamos a respeito de nossa civilização, seja visual ou sonora.

Mas é para a sala escura que me dirijo. Ergo a mão e com um gesto dos dedos que funciona como senha, faço a parede se abrir.

Entro na sala. A única luz vem de um pequeno retângulo que flutua ao centro.

Pego os fones e os ponho no ouvido. Por dentro da tela do retângulo observo o espaço lá fora, enquanto escuto o barulho. Parece o vento soprando? Será? Está vindo uma tempestade no espaço? Uma chuva de meteoros?

Bela expressão da melancolia

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Domingo passado, assisti ao filme Control, de 2007, que mostra a trajetória de Ian Curtis, vocalista da banda britânica Joy Division. Apesar da vida curta, encerrada com um suicídio, aos 23 anos, Curtis virou ícone e deixou uma das obras mais influentes do rock.

Em Control, dirigido por Anton Corbjin, Ian é interpretado pelo ator britânico Sam Riley. O filme se baseia em livro escrito por Deborah Curtis, viúva do cantor e produtora da película que reconstitui a trajetória do roqueiro desde a adolescência, passando pela formação do Joy Division, até o trágico e precoce fim. Para quem quiser ver, Control está disponível no YouTube com legendas em português no link https://www.youtube.com/watch?v=EMldVpaK_Ig

Divisão do prazer

Nascido em 1956, Ian Curtis desde cedo demonstrou vocação para criar letras e poesias. Na adolescência, cativou-se tanto pela literatura de escritores como o beat William Burroughs como pela música de The Doors, Lou Reed, David Bowie, Roxy Music e Stooges. Aliás, foi após ver um show dos Sex Pistols, em 76, que o jovem inglês decidiu que trilharia a estrada do rock.

No ano de 77, Curtis uniu-se ao guitarrista Bernard Albrecht (ou Bernard Sumner) e ao baixista Peter Hook para formar o Warsaw. Vários bateristas passaram pelo posto até a vaga ser preenchida por Stephen Morris. Pouco depois, mudaram o nome para Joy Division (divisão do prazer, em português), espécie de bordel criado para os soldados alemães na Segunda Guerra Mundial.

Pós-punk

Inicialmente com os pés no punk, que despontava mundialmente a partir do Reino Unido, o quarteto terminou enveredando pelo pós-punk. A tendência trazia letras mais complexas que as dos punks, voltadas ao existencialismo e à  introspecção, sem abrir mão da distorção das guitarras, mas com ares experimentais.

O Joy Division é o grupo mais importante da cena pós-punk. O epicentro desse trabalho se situava na personalidade controversa de Ian Curtis e em sua voz bem grave. Ele criava letras extremamente poéticas com relatos sobre angústia, solidão, sofrimento, fragilidade, melancolia, abandono e violência. 

Dança epiléptica

O enredo das composições tinha tudo a ver com seu autor. Ian sofria de depressão e para piorar ainda mais seu estado emocional, passou a sofrer de epilepsia. Conforme se pode ver em Control, ao invés de tratar adequadamente a doença, o cantor abusava do álcool, expressamente proibido pelos médicos, não raro combinando a bebida com os remédios. Volta e meia, caía no palco vítima de ataques epilépticos, que chegavam a ser confundidos com performances. Por conta das crises, chegaram a chamar a atitude de Ian Curtis no palco de “dança epilética”. 

Somou-se a esse cenário caótico o fim do seu casamento com a esposa Deborah. Ao que parece, o roqueiro não suportou a pressão. No dia 18 de maio de 1980, Ian Curtis se suicidou em sua casa, se enforcando. Morria o homem e surgia o mito. Mesmo com uma carreira meteórica, a qualidade e a força da obra foram o suficiente para que o Joy Division e seu frontman influenciassem as próximas gerações, em artistas das mais diversas correntes.

Os três remanescentes, Sumner, Hook e Morris, se reergueram das cinzas e montaram o New Order. Mas isso já é outra história.