Um cientista alemão finalmente descobre sua fórmula
Texto e ilustração: Marcelo Araújo
No laboratório, a algumas quadras do Checkpoint Charlie, em Berlim, o professor Hans Wilberley acabava de criar a fórmula da sua vida, que iria revolucionar a ciência moderna, no seu entendimento.
O trabalho era fruto de quarenta e sete anos de esforços. Na juventude, quando iniciou as pesquisas, o muro dividia a cidade.
Em seus pensamentos, o cientista acreditava que sua invenção, se utilizada devidamente, traria benefícios incríveis. Quem sabe o prestígio alcançado internacionalmente até ajudaria a reunificar a Alemanha. Estaria exagerando o professor? Provavelmente.
Mas a reunificação ocorreu antes que conquistasse seus resultados.
“Não importa. Quando chegar às estruturas moleculares finais, haverá uma revolução”, anteviu. “Revolucionarei a química, a medicina, a biologia; tudo!”, gabava-se.
E então, após quase cinco décadas, aquele dia miraculoso veio, quando a última estrutura molecular foi adicionada à fórmula.
O professor pulou pelo laboratório. Só não soltou foguetes porque não tinha nenhum consigo. Que pena! Também não possuía uma garrafa de espumante ou vinho, mas havia sim uma legítima cerveja alemã para comemorar, no freezer do laboratório.
Pegou uma taça e encheu.
Ergueu a taça para o alto e, logo depois, deu um gole.
“Maravilha!”.
Saboreando a cerveja, o professor encarou a enorme quantidade de tubos de ensaios e outros recipientes por cima da mesa, junto com papeladas e mais papeladas.
“O Nobel logo cairá em minhas mãos”, imaginou, visualizando hordas de repórteres ao seu redor, lhe perguntando sobre a utilidade da fórmula.
Também se enxergou em um desses talk shows famosos. Ele seria anunciado, para se levantar do meio da plateia e caminhar até uma cadeira em frente ao apresentador, sob os aplausos do público e visto por milhões de espectadores.
Muito simpático, o apresentador lhe perguntaria: “Professor Hans Wilberley. É um prazer conhecê-lo e tê-lo aqui conosco. Estamos curiosos para saber sobre sua fórmula. Pode falar um pouco a respeito? Para que serve?”.
“Para que serve? Para que serve? Para que serve? Para que serve?”.
A ilusão se desfez e do programa de TV o cientista voltou ao seu laboratório. Empalideceu e sentiu o coração palpitar, enquanto as pernas ficaram bambas.
“Para que serve?”.
A pergunta não parava de martelar na cabeça de Hans Wilberley, só que ele não conseguia lembrar a resposta.
“Céus!”, gritou, mas ninguém o ouviu, atormentado por sua terrível angústia.